A alimentação viva, crudívora ou crudicista é baseada na ingestão de alimentos crus, frescos e integrais, sem nenhum tipo de cozimento, tais como: frutas, verduras, raízes, sementes, nozes, grão, etc. É uma alimentação hipocalórica, hipoglicêmica, ativadora gênica (gene da longevidade), estimulante da circulação e mineralizante.

Neste tipo de alimentação é valorizado o potencial energético, ou seja, a vitalidade dos vegetais como fonte essencial de alimento. Considera-se que o ser humano se alimenta de vida e que pode buscar a fonte dessa energia de várias maneiras: na vitalidade do ar, da água, da terra, do sol, da alegria e tudo mais que nos mantém vivos. (1)

Além disso, a alimentação viva preza pela conscientização ecológica, econômica e humana dos alimentos, sem nenhum tipo de exploração ou agressão ao meio ambiente, preservando os ciclos da natureza e o equilíbrio dos ecossistemas. Também são incentivados nesta prática o consumo de alimentos orgânicos, ou seja, sem nenhum tipo de agrotóxico/pesticida.

A alimentação crua e viva não é algo novo ou moda passageira. Antes mesmo da descoberta do fogo, os humanos só ingeriam alimentos crus e vivos, tal como a natureza ofertava. No livro “O Evangelho Essênio da Paz”, supostamente escrito nas palavras do próprio Jesus Cristo, encontramos os mais antigos relatos e ensinamentos sobre esse tipo de alimentação.O manuscrito abaixo foi encontrado nos arquivos secretos do Vaticano e teve sua tradução publicada em 1928 por Edmond Bordeaux Szekely.

“Não mateis nem homens, nem animais, nem o alimento que vai para a vossa boca. Pois se comerdes comida viva, a mesma vos vivificará, mas se matardes a vossa comida, a comida morta vos matará também… Portanto, não comais coisa alguma que o fogo, a geada ou a água tenham destruído”.

No final do século 19 e início do século 20, o movimento da alimentação viva e crua retornou com força, quando uma nova geração de líderes de saúde surgiu com fortes convicções, após terem se curado de suas próprias condições de doença, dentre eles: Bernard Jensen, Jack Lalanne, Dr. Shelton, Armenian Arshavir Hovannessian da América do Norte, Ann Wigmore da Lituânia e Waerland e Alma Nissen da Suécia. (2)

No Brasil o movimento ganha forças através de nomes como Dr. Alberto Peribanez Gonzalez, médico cirurgião vascular e autor dos livros “Lugar de Médico é na Cozinha” e “Cirurgião Verde“, além de coordenador do projeto “Oficina da Semente” em Capão Bonito/SP, a Dra. Maria Luiza Branco, médica e idealizadora do projeto “Terrapia”, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) no Rio de Janeiro e Ana Branco, fundadora do projeto “BioChip” na Pontifícia Universidade Católica do do Rio de Janeiro (PUC/RJ). 

Hoje, as doenças crônicas degenerativas (diabetes,  arteriosclerose, hipertensão, doenças cardíacas, reumatismo, artrite, artrose, etc) e obesidade crescem de forma desenfreada, atingindo pessoas cada vez mais jovens, até mesmo crianças. Neste caso, por ser tratarem de doenças multifatoriais, a alimentação indevida é elemento chave no agravamento dessas condições de saúde. Em função disso, muitas pessoas recorrem à alimentação viva e crua para prevenir e melhorar seu estado de saúde.

Por que consumir alimentos vivos e crus?

Em 1930, o Dr. Paul Kouchakoff realizou uma pesquisa para comparar os efeitos dos alimentos cozidos versus crus. Ele observou que durante a ingestão de alimentos cozidos ocorria um aumento de leucócitos/glóbulos brancos na corrente sanguínea, chamada “Leucocitose Digestiva” e o mesmo não acontecia com a ingestão de alimentos crus. De acordo com o médico, isto se deve à elevação do nível de leucócitos/glóbulos brancos no sangue, em resposta à ausência de enzimas nos alimentos cozidos no intestino.

Os leucócitos têm como função combater e eliminar os microrganismos e estruturas químicas estranhas no organismo, por meio da captura ou produção de anticorpos, sejam eles patogênicos ou não. Eles fazem parte do sistema imunitário do organismo. A leucocitose ocorre geralmente devido à existência de um processo inflamatório, por exemplo, presente em doenças infecciosas agudas como  a pneumonia. (3)

Segundo o médico Dr. Alberto Gonzalez, ao ingerir alimentos cozidos antes de um exame de sangue, o corpo iniciará uma resposta imunológica elevando a contagem de glóbulos brancos a um valor parecido ao de uma apendicite aguda e, por este motivo, os laboratórios solicitam jejuns. No entanto, este fato não ocorre após a ingestão de alimentos crus. (4)

Por que não cozinhar?

Outra questão a ser considerada é que quando submetidos ao calor excessivo, ou seja, acima de 60º celsius, os alimentos  sofrem reações que alteram sua estrutura original, perdendo proteínas, vitaminas e minerais. Já o consumo de alimentos crus preserva ao máximo estes nutrientes.

Pesquisas mostram alterações nutricionais em diferentes métodos de cozimento (vapor, imersão, microondas e pressão) em hortaliças (abóbora, brócolis, cenoura e couve-flor) quando comparadas aos vegetais crus. Os resultados comprovam as perdas de nutrientes, como minerais (Fe, Zn, Mg, K, P, Ca) e vitamina C, quando submetidas a tratamentos térmicos. (5,6). Porém, não ocorre somente a perda de nutrientes e enzimas durante o processo de cozimento. Alguns alimentos produzem compostos tóxicos e cancerígenos, como é o caso da batata frita que produz a acrilamida, uma substância química que se forma naturalmente nos alimentos ricos em amido durante o processo cozimento em alta temperatura, tais como: fritar, assar ou grelhar (geralmente mais altas que 120 graus Celsius). (7)

Na alimentação viva e crua, os alimentos podem ser aquecidos até 42º Celsius, para evitar perdas de nutrientes, ingestão de substâncias cancerígenas e também para que o organismo gaste menos energia no processo de digestão, evitando com isso a Leucocitose Digestiva.

O congelamento não é utilizado pelo crudivorismo pois neste processo as células dos alimentos se rompem e entram em contato com o oxigênio e o meio externo, o que leva à perda de muitos nutrientes, tornado os alimentos deficientes.

Técnicas no preparo da Alimentação viva e crua

Para incrementar as receitas e aumentar o poder nutritivo dos alimentos, são utilizadas algumas técnicas, como:

  • Demolha/hidratação: prática na qual as sementes e oleaginosas são colocadas de molho em água potável para ativação do poder germinativo, tornando os nutrientes biodisponíveis para melhor absorção pelo organismo. O tempo de demolha varia de acordo com cada semente ou oleaginosa.
  • Germinação: etapa posterior a demolha/hidratação, onde as sementes e oleaginosas são colocadas no ar (ex.: lentilha), água (ex.: amêndoa) e terra (ex.: broto de girassol). Entende-se por geminado quando aparece o “narizinho” na semente ou oleaginosa. Sementes e oleaginosas, quando germinadas, possuem grande teor de energia vital, multiplicação das vitaminas (ex.: vitaminas do complexo B). (4)
  • Desidratação: processo de extração da água dos alimentos com exposição ao sol ou utilizando um desidratador em baixa temperatura, pois quando o alimento fresco é exposto a uma temperatura de 46 a 49 graus Celsius as enzimas são destruídas. Esta técnica é utilizada para conservar e preservar o valor nutritivo dos alimentos. (8)
  • Fermentação: processo de multiplicação dos nutrientes através de microorganismos lácteos presentes nos alimentos. É uma das melhores opções para vitalizar nosso organismo, uma vez que ela possui probióticos que auxiliam na flora intestinal.
  • Prensagem: técnica de cozimento mecânico dos alimentos crus com o calor das mãos. Utilizada para amaciar vegetais duros e retirar a “cica”.
  • Amornamento: processo de aquecimento de alimentos crus na temperatura em que as mãos aguentam.

Alimentação viva versus doenças

Não existem muitos trabalhos científicos sobre a alimentação viva e crua. O que vemos são relatos de pacientes que curaram suas enfermidades com a introdução deste tipo de alimentação.

No livro “Saúde pra você”, o médico alemão Ernst Günter descreve 100 depoimentos de portadores de câncer e outras doenças que se curaram de forma perfeitamente natural através da alimentação viva. No livro “A Cura do Diabetes pela Alimentação Viva”, Dr. Gabriel Cousens também traz alguns relatos de pacientes portadores de diabetes que reverteram seus quadros por meio da alimentação viva.

Faça um experimento com você mesmo, ninguém conhece o seu organismo melhor do que você. Como já dizia o maior médico da antiguidade e considerado “pai da medicina”:

“Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja o seu remédio”. (Hipócrates)

Referências Bibliográficas

1. Terrapia. Alimentação Viva na Promoção da Saúde e Ambiente. 2017;1–3. Available from: http://www.terrapia.com.br/capitulo-1

2. MORAES, Rosellis. Alimentação viva e ecológica: Guia Para Organizar a Sua Dieta Com Sabedoria e Receitas Vivas Deliciosas. [S.L.]: ALAÚDE, 2013. 292 p.

3. Mihalik R. Health News. NEC Heal News [Internet]. 2012;(May):1–2. Available from: http://www.wholefoodsmagazine.com/sites/default/files/nechealth_0.pdf

4. GONZALEZ, Alberto Peribanez. Lugar de médico é na cozinha: Cura e saúde pela alimentação viva. 3 ed. Brasil: ALAUDE, 2008.

5. Pigoli DR. Alterações Nutricionais Em Hortaliças Decorrentes De Diferentes Métodos De Cozimento. 2012;29:64. Available from: http://actaarborea.fca.unesp.br/index.php/energia/article/view/592/975

6. Rocha N, Caroline A, Xerez P, Henrique P, Sousa M De. Perdas Vitamínicas Durante o Tratamento Térmico de Alimentos Losses of Vitamins in Heat Treatment of Foods. 2012;121–8. Available from: http://pgsskroton.com.br/seer/index.php/JHealthSci/article/view/1025/984

7. States U, Nations U. Acrylamide in Food and Cancer Risk What is acrylamide ? Is there anything in the cooking process that can be changed to lower. 2017;1–4. Available from: https://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/diet/acrylamide-fact-sheet

8. COUSENS, Dr. Gabriel. A cura do diabetes pela alimentação viva: O Programa de 21 Dias do Tree of Life. 1 ed. [S.L.]: Alaúde, 2011. 468 p.